Geral
II Semana de Filosofia e Espiritualidade do Tocantins
Entre os dias 22 e 25 de abril de 2025, aconteceu a II Semana de Filosofia e Espiritualidade do Estado do Tocantins, realizada pelo Seminário Interdiocesano do Divino Espírito Santo e o Centro de Estudos Superiores Mater Dei, em parceria com o Observatório de Ecologia Integral e Sustentabilidade e o Centro Universitário Católica do Tocantins (UniCatólica), que sediou o evento.
Com uma programação diversificada, o encontro reuniu estudantes, docentes, lideranças religiosas e pensadores para discutir a urgência do diálogo entre filosofia, espiritualidade e questões socioambientais. A proposta da semana foi clara: refletir criticamente sobre o lugar do ser humano no cosmos, o papel da racionalidade diante da crise ecológica e o compromisso ético da filosofia em tempos fragmentados.
A abertura foi conduzida pelo Bispo Dom Pedro Brito Guimarães, que propôs uma integração entre espiritualidade e existência concreta, abordando o criacionismo como chave hermenêutica para compreender o mundo. Em sua fala, destacou a importância de superar visões reducionistas e prestou homenagem ao Papa Francisco, falecido na véspera do evento, reconhecendo-o como um dos principais expoentes da ecologia integral no cenário global. A encíclica Laudato Si’ permeou diversas reflexões ao longo dos dias.
Na conferência de abertura, “Hegel e o Meio Ambiente: Força e Externação”, o Professor Dr. Gomes Neto traçou um percurso filosófico de Platão a Hegel, destacando os conceitos de força e externação como fundamentos para se pensar o meio ambiente não como algo fragmentado, mas como uma totalidade relacional. Segundo ele, o cuidado ambiental é, antes de tudo, uma questão ontológica.
Na sequência, a conferência “Agroecologia e a espiritualidade do cuidado”, ministrada pela Professora Dra. Valéria Mamende, abordou a interseção entre práticas sustentáveis e espiritualidade cristã. Com uma leitura bíblica e ecológica da realidade, diferenciou os conceitos de terra, solo e chão, situando a agroecologia como resistência à monocultura e à dependência química. Destacou ainda o valor espiritual do “descanso da terra”, à luz do jubileu veterotestamentário, e a importância de uma ética do cuidado com as gerações futuras. O Professor Me. Geraldo defendeu, em sua fala, a inclusão da agroecologia nos currículos, como orienta o Documento Final do Sínodo da Amazônia (n. 108).
A oficina sobre os Guardiões Ecológicos reforçou o compromisso ativo com a sustentabilidade. Dom Pedro convocou os participantes a atuarem como agentes transformadores, enquanto o diácono Inácio provocou reflexões sobre a dimensão social da missão eclesial, em sintonia com os apelos da Fratelli Tutti.
O evento foi encerrado com a conferência “Direito Ambiental: Perspectivas e Contextualizações”, conduzida pelo Professor Dr. Antônio César Mello, que articulou questões jurídicas, éticas e ambientais. Discutiu temas como transgenia, biopirataria, desmatamento e os desafios locais do Tocantins, como poluição urbana e expansão de hidrelétricas. Na segunda parte, apresentou correntes da ética ambiental — antropocentrismo, biocentrismo, ecocentrismo e ecofeminismo —, incentivando uma postura crítica e engajada. O encerramento teve formato de roda de conversa, com dinâmicas participativas.
As apresentações dos estudantes mostraram maturidade e conexão com os temas abordados. Destaques:
-
Wilk Soares: analisou os métodos pedagógicos de Paulo Freire e Tomás de Aquino, ressaltando a importância de uma práxis dialógica;
-
José Samuel Germano: refletiu sobre a liberdade em Santo Agostinho como experiência interior e ontológica;
-
Marcos Vinícius: criticou a “cultura da lacração” à luz de Nietzsche;
-
João Tarcísio Meira: explorou a espiritualidade filosófica em Lima Vaz;
-
Camargo: analisou, a partir de Zygmunt Bauman, a liquefação das relações humanas;
-
Higor Evangelista: questionou a cultura dos “pais de pet”, com base em Tomás de Aquino, chamando atenção para uma inversão de valores contemporânea.
A organização agradeceu aos professores presentes — Illa Raquel, Helena, Geraldo, Nilton, Pe. Edmilson, Pe. Waldeon, Pe. José Roberto e Pe. Alexandre —, à UniCatólica pela estrutura cedida, às colaboradoras Justina e Gesa, e aos estudantes do Centro de Estudos Superiores Mater Dei.
Para o Padre João Paulo Veloso, diretor acadêmico, “o espaço universitário cumpre aqui sua vocação: ser lugar de reflexão crítica e de compromisso com o mundo real. Que a semente lançada nestes dias frutifique em ações concretas, currículos mais integrados e uma filosofia cada vez mais engajada com a vida”.
Integração espiritual, ética e ecológica
O Observatório de Ecologia Integral e Sustentabilidade, um dos proponentes da Semana, destacou a importância de iniciativas que conectem espiritualidade à vida prática. Reforçou que a sustentabilidade não se limita a práticas ambientais, mas envolve uma postura ética, sensível e harmoniosa com os ecossistemas. Ao valorizar o sagrado da criação e o compromisso coletivo, a Semana deixa como legado a urgência de um mundo mais justo, solidário e comprometido com as futuras gerações.
Publicado por Luma Marinho